DATA VENIA

Boteco, doce boteco

Clélia Fonseca de Carvalho

Quem é do ramo, aprecia e valoriza o lugar onde se afogam quase todas as mágoas da existência, num companheiríssimo copo de cerveja.
É lá que as feridas da vida se fecham, como num passe de mágica, e a dores se revelam e abrem para o mundo, como num livro de poesia.
No boteco, alegria e melancolia são servidas no mesmo copo. Boteco cura e cicatriza.
A maioria das pessoas se transforma em outras pessoas, quando estão num boteco. Algumas viram filósofos, formulam teses esdrúxulas, salvam o mundo. Há também os que dão palpite na política, os que se irmanam com as fofoqueiras do bairro, os técnicos de futebol e aqueles mais “saidinhos” que parecem beber cerveja com testosterona.
Tem bote queiro que quando toma umas, constrói até prédios.
Outro tipo “compra fazendas”, planta milhões de pés de café e vende bois...
Existem botequeiros sisudos que, depois do primeiro gole, destravam a língua e o coração.
Existem também os chorões, os que gostam de batucar nas mesas cantando sambas e há até os piadistas. São,quase todos, adoráveis.
Abomináveis são os violentos, aqueles que enchem a cara e fazem tempestade em copo d´água. Ou de cachaça...
Assim como a palavra saudade, o boteco é um negócio estritamente brasileiro.
Esqueçam os pubs ingleses, as bodegas mexicanas, as tascas ibéricas e todos os congêneres do planeta.
O boteco do Brasil é o que há!
Boteco é habitat natural de poetas e escritores. Vai-se longe atrás de um bom boteco. A propaganda é feita depois.
Em Minas Gerais, especialmente na capital, a variedade de botecos chega a espantar.
Mas não precisamos ir tão longe. Aqui mesmo em Jacutinga há alguns botecos (aqui chamados de bares) e que também devem oferecer pratos diferentes regados a cervejas geladíssimas, como na agradável Poços de Caldas, onde inúmeros botecos fazem a alegria dos nativos e turistas e curiosos, especialmente nos finais de semana.
Todos os anos também há o concurso para escolha do melhor boteco do ano. É uma festa imperdível e oportunidade de se conhecer as exóticas combinações culinárias inventadas com a criatividade indiscutível dos mineiros.