segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

DATA VÊNIA

Eternos Aprendizes

Clélia Fonseca de Carvalho

Já disseram que eu gosto muito de aforismos. Gosto mesmo, pois ainda não encontrei nada que expresse tão bem uma situação ou um estado de coisas como um ditado bem criativo.
“Quanto mais se vive, mais se aprende”. É um ditado bastante popular, mas convenhamos, é também de uma verdade inconteste: Mais vivemos, mais aprendemos e mais temos que aprender...
Somos eternos aprendizes e passamos nossas vidas entre acertos e erros, mas sempre aprendendo.
Para os observadores, os curiosos, a busca pelo “saber fazer” não termina nunca. Já reparou que todas as vezes que achamos que sabemos bem uma determinada coisa, encontramos alguém que a sabe melhor que nós? Sem esse espírito curioso e aventureiro, o ser humano ainda estaria na idade da pedra lascada. O saber vai sendo transmitido, e acrescido, de geração á geração e não adianta o quanto sabemos, temos sempre alguma coisa, ou muitas, para aprender.
Há coisas que aprendemos num determinado momento de nossas vidas que não há dinheiro que pague, e a lembrança de quem as ensinou, ninguém apaga. (aqui começa a hora da saudade, rsrsr).
Na década de 40, quando eu tinha de oito pra nove anos resolvi que queria ser cabeleireira e, como levava jeito, procurei alguém que pudesse me ensinar a gostosa arte de tornar as mulheres mais belas. Descobri uma moça que era conhecida, carinhosamente, por “Neguinha”, filha do Manuel soldado (como ele era conhecido). Então passei a ir á sua casa três vezes por semana para aprender essa arte. Naquele tempo não havia as facilidades de hoje: Não havia bobies, nem spray, nem chapinhas, nem escovas modeladoras, nada. Tudo era feito só com a habilidade, e a arte de fazer os famosos “cachinhos”, enrolando os cabelos apenas com os dedos e o cabo do pente requeriam muita paciência e destreza. “Como professora, Neguinha era perfeccionista e não dava moleza: “Enrole bem as pontas”; “Não ponha muita ramona rs (grampos, minha gente), por cima dos cachos para não ficar marcados”;” Deixe secar bem antes de pentear”, etc.
Aos sete anos e com esse aprendizado, eu atendia várias clientes, em suas casas e até aprontava noivas, penteando e fazendo maquilagem. Uma dessas noivas foi a Durvalina Moliani, uma freguesa muito querida. Ela vinha da roça e me chamava na casa da Dita do Dante, sua tia, para penteá-la e, quando foi para se casar, dei o melhor de mim e ela ficou linda, como todas as noivas...
Dona Judite Gobbo também foi minha freguesa. Todos os sábados ela me pagava um dinheirinho para fazer-lhe os cachinhos, que iria soltar no outro dia, para ir à missa do domingo ( lembrem-se que naquele tempo ainda não havia secador).
Lembro-me, também, com muito carinho, de outra professora, Olívia Grassi e de seus ensinamentos sobre como fazer tricô de quatro agulhas. Nas décadas de 40, 50 e 60 esse tipo de artesanato fazia muito sucesso entre os compradores e, muita gente ganhava a vida fazendo ou apenas revendendo esses trabalhos. Fui uma dessas pessoas beneficiadas porque o que fazia conseguia revender e comprar material escolar, quando estudava no ginásio Santo Antônio. Olívia nunca comprou pelas aulas e foi sempre muito paciente comigo. Onde estiver, Dona Olívia, minhas saudades e gratidão.
E, completando essa hora da saudade, não poderia deixar de falar de minha querida irmã, Lola, e de suas aulas de corte e costura que foram, e continuam sendo, de grande valia para mim porque, com elas sempre me embrenho, sem medo, nos meandros das tesouras, linhas e agulhas.Obrigada, mana!
Como disse, continuo vivendo e aprendendo todos os dias e, a cada momento, um mestre anônimo está me ensinando algo. Que Deus abençoe essas pessoas!

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